Violência contra os povos indígenas no Brasil segue alta em 2015, aponta relatório

Segundo organizador do documento, média de assassinatos é de 55 pessoas por ano nas últimas décadas
Letícia Leal

Foi lançado no último dia 15 o relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil – Dados 2015, compilado e publicado pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI). O documento contém dados alarmantes sobre homicídios, suicídios, mortalidade infantil e ameaças de morte além de outros tipos de violência enfrentados cotidianamente pelas populações indígenas nos estados brasileiros.

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Apresentação do relatório contou com exibição de vídeos-denúncia da situação vivida pelo povo Guarani-Kaiowá

Os homicídios, ataques, ameaças de morte, espancamentos, bem como a violência por omissão à assistência, de modo geral, mantiveram a média de índices altos. Só em 2015, 137 assassinatos de indígenas foram reportados. Destes, 36 aconteceram no Mato Grosso do Sul, estado em que também ocorreram 45 dos 87 suicídios registrados no ano passado.

Na avaliação de Roberto Antônio Liebgott, um dos organizadores do documento e coordenador da regional sul do Cimi, o estado do Mato Grosso do Sul vive a violência de forma permanente na disputa de fazendeiros pelos territórios tradicionais indígenas, enquanto  em outros estados as violações podem variar. “Em 2015, o Maranhão se destacou pelas situações gravíssimas de incêndios criminosos por madeireiros, e a Amazônia na desassistência e precariedade da fiscalização”, explica.

Para a coordenadora da pesquisa, a antropóloga Lúcia Helena Rangel, os dados ainda não abrangem a real gravidade da situação. “Temos poucos casos de racismo, mas a gente sabe de mais histórias. É o racismo que leva alguém a se sentir no direito de matar uma criança no colo da mãe, por exemplo”, afirma, em referência ao assassinato do menino Vitor, indígena do povo Kaingang de apenas 2 anos, morto em dezembro do ano passado no município de Imbituba, Santa Catarina.

Denuncias levadas à ONU

Na última quarta-feira(21), o relatório foi apresentado em evento  paralelo na ONU com a presença de lideranças indígenas, da Relatora Especial da ONU para direitos dos povos indígenas, Victoria Tauli-Corpuz e do procurador do Ministério Público federal de Dourados (MS), Marco Antonio Delfino, além da mediação de Ana Maria Suarez-Franco, da Fian International. No dia anterior, as denuncias sobre as violações aos direitos dos povos indígenas no Brasil apresentadas na 33ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (UNHRC) pela Relatora Especial, Victoria Tauli-Corpuz, foram ignoradas pela embaixadora Regina Maria Cordeiro Dunlop, representante do governo brasileiro na ocasião.