Entrega de sementes do milho guarani para liderança ashaninka (Foto: Acervo CTI)

Projeto do CTI vencedor do Prêmio Newton América Latina 2018

O Centro de Trabalho Indigenista (CTI), em parceria com o CAoS (Centre for the Anthropology of Sustainability – University College London), com a Comissão Guarani Yvyrupa (CGY) e a Associação Ashaninka do Rio Amônia – Apiwtxa, foi o vencedor da edição brasileira do Prêmio Newton América Latina 2018. Escolhido entre 57 propostas somente do Brasil, o projeto “Gestão Ambiental e Territorial em Terras Indígenas dos Guarani no Sul e Sudeste do Brasil” foi premiado como melhor iniciativa de pesquisa e inovação em apoio ao desenvolvimento econômico e bem-estar social. Essa parceria foi responável pela execução de dois projetos apoiados pelo Fundo Newton e British Council nos últimos três anos.

Todo o recurso do Prêmio Newton 2018 será utilizado pelo CTI e seus parceiros para dar seguimento à sua atuação de 40 anos junto ao povo Guarani, com ações de reflorestamento nas aldeias, apoio às roças tradicionais e intercâmbios de sementes; oficinas regionais para trocas de conhecimentos de técnicas tradicionais e agroflorestais; e a implementação da parte ambiental dos Planos de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA), elaborados nos projetos anteriores, nas aldeias Salto do Jacuí e Cantagalo, RS.

Nos últimos dois convênios, o CTI e seus parceiros desenvolveram projetos com foco no fortalecimento de estratégias territoriais e ambientais em terras Guarani na Mata Atlântica, especialmente através da promoção de intercâmbios de conhecimento e atividades de capacitação, entre os próprios povos indígenas e com técnicos não indígenas.

Foram cinco oficinas de agrofloresta com comunidades do sul e sudeste do Brasil. Um intercâmbio envolvendo o povo Ashaninka possibilitou troca de conhecimentos de gestão territorial e ambiental entre diferentes povos indígenas.

“Foi uma experiência muito boa, uma troca de experiências que me fez pensar o que é a vida dos Guarani hoje e como era antigamente. Nós fomos no curso de manejo florestal, eles pensam nisso, porque floresta é importante, a mata é muito importante. Foi muita alegria andar no rio vendo as comunidades, muito peixe eles têm”, conta Jaime Wera, da TI Cantagalo, no Rio Grande do Sul, que visitou a comunidade Ashaninka na TI Kampa do Rio Amônia, no estado do Acre.

Intercâmbio entre aldeias dos povos Guarani e Ashaninka (Foto: Acervo CTI)

A realização de um seminário com o tema da sobreposição de terras indígenas e unidades de conservação reuniu indígenas Guarani e membros de órgãos públicos como a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), auxiliando na resolução de conflitos nos casos das TIs Kuaray Haxa e Peguaoty.

Durante os dois projetos o CTI produziu vídeos de registro das atividades de plantio realizadas junto às comunidades do Oeste do Paraná, com registros de imagens das aldeias, depoimentos dos representantes indígenas das comunidades e rituais próprios dos Avá Guarani da região.

“Os karai [não indígenas] nunca entenderam porque queremos a mata. Nós fazemos parte dela, precisamos dela para sobreviver. Os animais são nossos parentes. Com a autorização de Nhanderu [Deus, nosso pai] podemos pegar eles para comer. Aí vieram e destruíram a mata, tudo virou soja. Mas é possível transformar a soja em mata de novo”, diz Damásio Martines, ancião da aldeia Tekoha Y’Hovy, no município de Guaíra, Oeste do Paraná.

Santiago Koty Rayvi, ancião do Tekoha Yvyraty Porã (Foto: Acervo CTI)

Nesse período foram desenvolvidos cinco PGTAs nas Terras Indígenas (TIs) Tarumã, Pindoty e Piraí, no estado de Santa Catarina e nas TIs Cantagalo e Salto do Jacuí, no estado do Rio Grande do Sul. O PGTA é uma ferramenta para a  implementação da Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial de Terras Indígenas (PNGATI) que consiste em pequenos livros e mapas que materializam as formas de uso do território pelos próprios indígenas.Outra ferramenta de diagnóstico desenvolvida foi o Etnomapeamento das TIs Kuaray Haxa (PR) e Koeju (RS), que consiste nas formas de representação espacial do território de acordo com a classificação indígena.Através dessas ações, o projeto já beneficiou mais de 3 mil indígenas Guarani na Mata Atlântica com a recuperação de áreas degradadas, recuperação de espécies através do intercâmbio de sementes e promoção da segurança alimentar das comunidades.