Nota de Pesar: CTI se solidariza com as famílias e amigos de Bruno Pereira e Dom Phillips

O Centro de Trabalho Indigenista – CTI lamenta profundamente a confirmação das mortes de nosso colega de profissão, o indigenista Bruno Araújo Pereira, e do jornalista britânico Dom Phillips, assassinados por pescadores ilegais, invasores da Terra Indígena Vale do Javari. Nossa solidariedade e mais sinceros sentimentos aos familiares e amigos.

Experiente indigenista, licenciado da Fundação Nacional do Índio (Funai), Bruno estava em área realizando trabalho para fortalecer ações de monitoramento territorial junto à União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), que congrega organizações de base dos povos Marubo, Matsés, Matis, Kanamari, Kulina-Pano, além de atuar na defesa de direitos dos povos de recente contato Tsohom Dyapá e Korubo e de povos isolados. Por sua atuação contra as invasões ilegais em curso na TI Vale do Javari, passou a receber ameaças.

Bruno Araújo Pereira atuou durante anos no Vale do Javari, onde foi coordenador regional da Funai em Atalaia do Norte (AM). Ainda pela Funai, em 2018 assumiu a Coordenação Geral de Índios Isolados e Recém Contatados (CGIIRC) e chefiou importante expedição de contato com os Korubo. Foi um dos fundadores do OPI – Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato.

Como jornalista, Dom Phillips colaborou para os mais importantes jornais do mundo, dentre eles o Guardian. Recentemente pesquisava a Amazônia e as soluções para a região a partir de práticas das populações que habitam a floresta. Antes de morrer, acompanhava Bruno em visitas aos postos de vigilância na região do Vale do Javari para entrevistar indígenas sobre as ações de proteção em curso.

Nos últimos dias vimos um comovente engajamento dos povos indígenas do Vale do Javari nas buscas por Bruno e Dom. Foram os primeiros a formarem grupos de expedição para fazer a varredura dos locais e cada avanço nas investigações teve trabalho e informações dos indígenas.

O pouco apreço dos órgãos do Estado brasileiro com este trabalho mostra como ainda não são considerados como sujeitos fundamentais para a efetivação de políticas de proteção de seus territórios. Bruno, como experiente indigenista, e Dom, como jornalista e pesquisador de soluções para a Amazônia, sabiam que o protagonismo dos indígenas é fundamental para pensar os desafios de combater as invasões e a degradação da floresta.

O aumento exponencial da violência na Terra Indígena Vale do Javari e nos territórios indígenas de todo o país está intimamente ligado com uma política deliberada do governo Bolsonaro. Por trás dos investimentos cada vez menores na Fundação Nacional do Índio (Funai), do desmonte das ações de fiscalização e do incentivo à atuação ilícita de invasores, estão as falsas soluções de abertura das terras indígenas para exploração econômica e predatória.

Como organização da sociedade civil atuando há mais de 20 anos junto aos povos do Vale do Javari, nós do CTI, estamos preocupados com esse aumento exponencial da violência. Além das vidas de Bruno e Dom, a violência contra indigenistas já vitimou Maxciel Pereira dos Santos, colaborador da Funai que atuou nas bases de vigilância para conter invasões no Vale do Javari, assassinado em setembro de 2019.

Manifestamos nossa solidariedade com familiares e amigos de Bruno e Dom e com todos os povos indígenas do Vale do Javari. Seguiremos acompanhando para que não seja mais um caso de impunidade e para que as ações na região evitem novos casos de violência contra aqueles que lutam pela proteção do território.