Tuxaua Amado falando em assembleia do Conselho Geral Sateré Mawé em 2017 (Foto: Sonia Lorenz/Acervo CTI)

Nota de pesar pelo falecimento do Tuxaua Geral do Andirá, Amado Menezes Filho

Faleceu ontem (15/10/2020) no fim da tarde, o Tuxaua Geral do Andirá, Amado Menezes Filho, importante liderança do povo Sateré-Mawé da Terra Indígena Andirá-Marau, vítima de Covid 19, no Hospital Regional Jofre Cohen, na cidade de Parintins (AM), onde estava internado desde 23 de setembro.

Havia uma Liminar da Defensoria Pública para os pacientes graves internados em Parintins serem transferidos para Manaus, incluindo o Tuxaua Amado. Em 09/10 seu estado de saúde agravou-se e ele precisou ser entubado, não podendo ser removido de avião, porque segundo avaliação médica do hospital o Tuxaua Amado não apresentava condições clínicas para ser transladado para Manaus.

O Tuxaua Amadinho, como era chamado por seu povo, tinha 64 anos, morava na comunidade Ponta Alegre no rio Andirá, e pertencia ao clã waranã (guaraná).

O Tuxaua Amado será lembrado por seu povo como pessoa muito alegre, sempre procurando melhorias para levar para os Sateré-Mawé, e demonstrando grande preocupação com os rumos das transformações trazidas pelos caraiwá (brancos) para os jovens.

Em 2016, o tuxaua Amado estava preocupado que os conhecimentos tradicionais fossem abordados nas escolas das comunidades, avaliando ser importante o intercâmbio entre os conhecimentos científicos dos caraiwá e os conhecimentos tradicionais de seu povo. Achava importante que os jovens Sateré-Mawé saíssem para estudar nas cidades, se formassem em diferentes profissões, mas se preocupava que muitas vezes este movimento ocasionava a perda da língua materna. Então se mobilizou para que houvesse o ensino da língua materna nas escolas da Terra Indígena Andirá-Marau.

Com o retorno dos professores Sateré-Mawé que haviam saído para estudar fora, demonstrava grande generosidade apontando para a importância das novas ideias trazidas para os alunos, aconselhando-os a aproveitarem o que fosse melhor para os Sateré-Mawé.

Em 2018, mostrou-se preocupado com as transformações estruturais trazidas pela chegada da energia (Projeto Luz para Todos), avaliando que era necessária uma reflexão sobre as mudanças de hábitos e costumes do povo, para não esquecerem suas tradições.

O Tuxaua Amado preocupava-se com as novas gerações no contexto de defesa territorial, e via na educação uma ferramenta poderosa, ele falava – “podem chegar pessoas de fora e temos que preparar nossa defesa, não vamos mais cacetar e usar flechar para matar. Os nossos filhos, os nossos netos, os nossos tataranetos não vão usar estas armas, vão usar a lei, e eles precisam estudar para aprender”.

Estava preocupado com as pressões dos brancos nos limites da Terra Indígena Andirá-Marau, e esteve presente incentivando os jovens no Curso de Formação dos Agentes Ambientais ministrado pelo Centro de Trabalho Indigenista – CTI, em 2018.

Em 2018, durante o trabalho de limpeza das picadas que limitam a Terra Indígena Andirá-Marau, realizados sob a coordenação do Tuxaua Donato Lopes da Paz, o Tuxaua Amado participou do trabalho pesado de limpeza junto com a equipe de caçadores e agentes ambientais, no trecho de Guaranatuba até o Tigre, noroeste da Terra Indígena.

Sentiremos muita falta de sua presença marcante, assertiva, empolgada com as atividades voltadas para o futuro do povo Sateré-Mawé. Nossos sinceros sentimentos para a família Menezes e para o povo Sateré-Mawé.