O Centro de Trabalho Indigenista – CTI vem a público manifestar repúdio e extrema preocupação com ações recentes da Polícia Militar do Estado de São Paulo contra a comunidade guarani da Terra Indígena Jaraguá. São diversas denúncias dos moradores das aldeias de uma ação ostensiva com objetivo de intimidação e cerceamento dos membros da comunidade.
As ações violentas da PM-SP iniciaram na manhã de terça-feira, dia 30 de maio, durante uma manifestação contra o PL 490 que iniciou na Rodovia dos Bandeirantes e seguiria pelo leito do rio Tietê.
Os Guarani, integrando ações dos povos indígenas em todo o Brasil, mobilizaram-se para denunciar a votação acelerada pela Câmara dos Deputados do PL 490, aprovado no mesmo dia e que institui, de maneira inconstitucional, a tese do marco temporal dentre outras ameaças à efetividade de seus direitos territoriais.
Na ocasião, mesmo tendo negociado com as lideranças indígenas uma escolta para que os manifestantes caminhassem, o batalhão de choque deu início a um ataque absurdamente desproporcional com bombas de gás, balas de borracha e jatos de água que partiam de veículos blindados (caveirão) e helicópteros.
De maneira totalmente irresponsável com a integridade física dos manifestantes, os policiais que participaram da ação atiraram com armas de bala de borracha mirando diretamente o rosto das pessoas, tendo ferido uma das lideranças espirituais na testa.
Mesmo após dispersar a manifestação na rodovia dos Bandeirantes, os policiais militares seguiram jogando bombas de efeito moral e de gás dentro da comunidade e em direção às casas na rua Comendador José de Matos. As bombas de gás levaram ao desmaio três pessoas que precisaram de atendimento e afetaram as pessoas que estavam dentro da comunidade, inclusive na escola,, muitos deles idosos e crianças.
Novamente, de forma irresponsável, um helicóptero que sobrevoava a região derrubou galhos de árvores que feriram as pessoas, já fora da rodovia, também na rua Comendador José de Matos. Bombas de gás também foram jogadas do alto pelos oficiais que estavam no helicóptero.
Ainda no dia 30/05, a PM-SP passou a fazer um cerco com rondas no entorno das comunidades da Terra Indígena Jaraguá. Diversos moradores passaram a ser abordados sem que houvesse nenhuma explicação plausível.
Denúncias das abordagens continuaram nos dias seguintes, com questionamentos sobre visitantes não indígenas que tentavam adentrar a comunidade e dos moradores indígenas que saiam de suas casas. Uma indígena foi interpelada quando se dirigia ao transporte público para trabalhar e foi obrigada a voltar.
Diante de todo o exposto, a presente nota tem o intuito de alertar a sociedade frente às ações absurdas e arbitrárias da PM-SP e solicitar das autoridades competentes a devida apuração e responsabilização dos fatos descritos.
Por fim, a comunidade da Terra Indígena Jaraguá convoca parceiros, artistas e sociedade civil para participarem do ato ecumênico que ocorrerá neste domingo 04/06, seguindo o curso do tão adoecido rio Tietê, com a finalidade de dar prosseguimento à caminhada pretendida pelos Guarani e interrompida violentamente pela PM-SP.