“Minha perna é minha classe”

Infelizmente, no dia de hoje, Manoel Conceição Santos, o “Mané” da Conceição, nos deixou, aos 86 anos, depois de dias internado num hospital em Imperatriz (MA). Impossível descrever em poucas linhas sua biografia, mas foi guerreiro incansável contra a opressão do latifúndio e do capitalismo e pela luta pela reforma agrária, pelo socialismo e pelas liberdades democráticas, participando ativamente a partir dos anos 1960 dos movimentos camponeses. Combateu a ditadura, foi preso e covardemente torturado várias vezes. Em 1968, vítima da repressão policial, teve parte da perna amputada. Na época, José Sarney lhe ofereceu vantagens materiais para que silenciasse. A recusa veio na frase que ficou famosa: “minha perna é minha classe”.

Depois de um exílio de mais de três anos na Suíça, a partir de 1979, Manoel participou da reorganização da Ação Popular, ajudou a fundar o PT e criou o Centru – Centro de Educação e Cultura do Trabalhador Rural, em Recife. Trouxe o Centru para o Maranhão, onde contribuiu para o fortalecimento de sindicatos de trabalhadores rurais e a criação cooperativas agroextrativistas. Sua companheira de longa data, Denise, também participou ativamente desse processo.

Defensor do cerrado e do meio ambiente, em meados dos anos 1990 ajudou a construir uma aliança interétnica, juntamente com o CTI, entre indígenas e não-indígenas, entre agricultores familiares das cooperativas agroextrativas do Maranhão e os povos Timbira do Maranhão e Tocantins, em torno de um projeto de beneficiamento e plantio de frutos nativos do cerrado, constituindo a Rede Frutos do Cerrado, sob o lema “ajude a manter o cerrado em pé”.

Durante os vários anos dessa parceria e aliança, aprendemos muito com o Mané, com sua paciência e resiliência, seu espírito jovial e revolucionário e sua determinação incansável. Deixa um legado gigante e um exemplo para todos nós, especialmente num tempo onde a democracia, o meio ambiente e os direitos humanos estão cada vez mais ameaçados neste país.

 

Mané deixa um legado gigante e um exemplo para todos nós, especialmente num tempo onde a democracia, o meio ambiente e os direitos humanos estão cada vez mais ameaçados neste país