Por Tiago Kirixi Munduruku/CTI
Na Terra Indígena (TI) Cachoeirinha, em Mato Grosso do Sul, o início de julho foi marcado por um passo importante na consolidação da autonomia indígena sobre o território. Nos dias 3 e 4, o povo Terena realizou o lançamento oficial dos seus Instrumentos de Gestão Territorial e Ambiental (IGTAs), resultado de um processo coletivo que combina conhecimento tradicional, mapeamento comunitário e planejamento estratégico para o cuidado com a terra.
Mais do que uma entrega técnica, o lançamento representou um momento simbólico de fortalecimento da gestão indígena, reunindo professores, lideranças, jovens, agentes ambientais e representantes de instituições como o Conselho do Povo Terena, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), o Centro de Trabalho Indigenista (CTI) e a Câmara Municipal de Miranda.
As atividades começaram com uma roda de conversa na Escola Estadual Indígena Cacique Timóteo, localizada na Aldeia Cachoeirinha, com a presença de aproximadamente 18 participantes, entre diretores, coordenadores, professores e lideranças locais. Durante a conversa, foram apresentados os Cadernos de Mapas e o Diagnóstico Territorial, documentos que sistematizam informações sobre o território, os modos de vida e os desafios enfrentados pelas comunidades.
“A escola precisa estar integrada nesse processo de gestão e fortalecimento do nosso território. Esses materiais são também ferramentas pedagógicas”, destacou um dos professores durante o encontro.
Na sequência, a equipe realizou visitas aos caciques das seis aldeias da TI Cachoeirinha: Argola, Lagoinha, Cachoeirinha, Morrinho, Babaçu e Mãe Terra. Em cada comunidade, houve uma pequena reunião para apresentação dos materiais, reforçando o papel coletivo na construção e implementação dos instrumentos.
O ponto alto da programação foi o evento de lançamento, realizado no dia 4, na Oca da Aldeia Cachoeirinha. A atividade contou com ampla participação da comunidade, incluindo anciões, jovens, agentes ambientais, lideranças, professores, representantes do Conselho do Povo Terena, da Funai, do CTI, da Escola Estadual Indígena Cacique Timóteo, além do vereador Ed Antonio, da própria Aldeia Cachoeirinha.






A mesa de abertura foi composta por lideranças políticas e tradicionais das seis aldeias da TI, além de representantes do Conselho do Povo Terena, da Funai, da escola, da Câmara Municipal de Miranda e do CTI. Em todas as falas, a valorização da educação diferenciada e das formações voltadas à juventude esteve no centro.
“Ver esse trabalho se transformar em livros, em mapas, é emocionante. É a nossa história contada por nós mesmos, a partir das nossas vivências, da nossa visão de território”, disse uma liderança da Aldeia Mãe Terra.
Outro ponto forte das falas foi a trajetória de luta e a importância da parceria com o CTI. “Essa caminhada com o CTI é de muitos anos, e hoje a gente vê que deu frutos. Esses materiais são conquistas do povo Terena”, afirmou um representante do Conselho do Povo Terena.
Dois jovens agentes ambientais da TI Cachoeirinha, Stephany Belizário e Marcos Samuel, compartilharam relatos sobre a primeira formação realizada, incentivando a participação de outros jovens nas próximas etapas do projeto.
“Estar nessa formação foi muito importante pra mim. A gente aprende a cuidar do nosso território e também a se fortalecer como juventude Terena”, disse Stephany. Marcos completou: “A juventude precisa estar junto nessa luta. É nossa terra, é nosso futuro.”
A representante do CTI, Carolina Perini, reforçou o caráter coletivo do processo: “São instrumentos que foram construídos por vocês e para vocês. Eles refletem o que é o território na visão do próprio povo Terena.”






Durante o evento, foi exibido um curta-metragem documental sobre a formação dos agentes ambientais, produzido nas etapas anteriores do projeto. Em seguida, os exemplares dos instrumentos foram entregues às lideranças e à escola.
O diretor adjunto da Escola Estadual Indígena Cacique Timóteo, Adilson Matos, recebeu simbolicamente uma caixa com os materiais. “Esses cadernos vão ajudar nossos alunos a entenderem melhor o próprio território onde vivem. Isso é educação de verdade”, afirmou.
O encerramento, com um café da manhã coletivo, selou não apenas a entrega dos documentos, mas também a continuidade de uma trajetória de luta e construção coletiva. Para o povo Terena, os instrumentos de gestão ambiental não são apenas um produto técnico: são a expressão concreta de uma visão própria de território, de futuro e de resistência.