Oficina de Gestão Territorial e Ambiental no Vale do Javari

CTI realiza oficinas de Gestão Ambiental e Territorial na Terra Indígena Vale do Javari

Nas primeiras semanas de março, representantes dos povos indígenas da Terra Indígena (TI) Vale do Javari (AM) participaram de duas oficinas coordenadas pelo Centro de Trabalho Indigenista (CTI). Membros de comunidades dos povos Kulina, Marubo, Matsés, Matis e Kanamari, e os membros de suas organizações de base, estiveram reunidos em Atalaia do Norte (AM) no 1º módulo do Curso de Formação de Agentes Ambientais Indígenas do Vale do Javari e no 1º módulo da Oficina de Fortalecimento das Organizações Indígenas para a Gestão Territorial e Ambiental na TI Vale do Javari. As oficinas foram realizadas por meio do projeto “Consolidando Experiências de Gestão Territorial e Ambiental em Terras Indígenas na Amazônia Brasileira”, com financiamento do Fundo Amazônia/BNDES e com apoio técnico do projeto de fortalecimento de organizações indígenas, financiado pela Embaixada Real da Noruega. 

Durante 10 dias, 36 agentes ambientais indígenas representantes dos povos Kulina, Marubo, Matsés, Matis e Kanamari participaram do Curso de Formação de Agentes Ambientais Indígenas do Vale do Javari. Realizado na cidade de Atalaia do Norte (AM), o curso foi coordenado pelo consultor especialista Hilton Nascimento e contou com o apoio da equipe do CTI, além de participantes convidados. O curso teve como objetivo formar jovens indígenas para os novos desafios e estratégias a serem tomadas para a gestão da Terra Indígena.

Durante o curso, os Agentes Ambientais Indígenas puderam trocar experiências sobre práticas de manejo de recursos naturais e de controle e monitoramento territorial realizadas por outros povos indígenas e comunidades tradicionais da região.

“Aqui no curso eu pude ouvir as experiências de outros povos que vieram aqui contar para a gente o que eles estão fazendo para cuidar de seus territórios. Agora eu quero levar estas experiências para discutir na minha aldeia.” Kunin Matis, agente ambiental da aldeia Tawaya.

Em outro momento da oficina, os indígenas realizaram atividades práticas de utilização de alguns instrumentos de gestão territorial, como etnomapeamentos, e se capacitaram para a utilização de GPS e ferramentas audiovisuais associadas a ações nas aldeias. O biólogo especialista em geoprocessamento do CTI, Diogo Azanha, conduziu a formação no uso de ferramentas cartográficas.

“Há uma grande expectativa das aldeias pelo engajamento destes jovens no cuidado com a TI Vale do Javari. Eles estão sendo preparados para levar informações e discutir novas práticas de gestão territorial e ambiental junto aos mais velhos para lidar com os desafios que eles têm enfrentado”, comenta Hilton Nascimento, consultor especialista.

Os membros de organizações parceiras do CTI no Peru também participaram da oficina. Uma experiência de monitoramento e vigilância territorial com utilização de instrumentos cartográficas em terras indígenas no Peru foi apresentada por Rolando Rodrigues   – ORPIO/AIDESEP, Wendy Pineda Ortiz – Rainforest US, Francisco Hernandez Gaytan – Presidente da Federación de las Comunidades Nativas Ticunas y Yaguas del Bajo Amazonas (FECOTYBA), Lino Garcia Callajana – Apo de Comunidad Indígena Yagua del Yavari e Otto Caetano Gilmardo.

Os professores indígenas do Vale do Javari, Makë Bëux (Matis), Ninha Kanamari (Kanamari), Aldeney Marubo (Marubo) e Raimundo Mean (Matsés), também estiveram presentes para compartilhar com os agentes em formação suas experiências na valorização de conhecimentos tradicionais para a gestão territorial .

Angel Uaqui Dunu Maya (Matsés), professor da Comunidad Nativa Matsés no Peru apresentou as experiências de manejo de recursos naturais que os Matsés tem buscando implementar nos últimos anos e compartilhou sua experiência na construção e monitoramento de acordos binacionais entre seu povo.

A especialista em monitoramento e manejo de quelônios Ana Lucia Bermudez Romero, compartilhou as experiências de monitoramento e proteção de quelônios no rio Caquetá junto ao povo Bora-Miraña.  Pedro Rapozo, professor da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e Rodrigo Oliveira, da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) discutiram com os agentes estratégias de fortalecimento comunitários e proteção de lagos e recursos pesqueiros.

Fortalecimento das Organizações Indígenas
Na semana seguinte, também em Atalaia do Norte, entre os dias 12 e 15 de março, o CTI realizou a Oficina de Fortalecimento das Organizações Indígenas para a Gestão Territorial e Ambiental da TI Vale do Javari. A oficina foi facilitada por Jaime Siqueira Jr., coordenador executivo do CTI, com o apoio da equipe do CTI. Participaram da oficina representantes da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari – UNIVAJA e de suas organizações de base: Associação Indígena Matis – AIMA, Associação Marubo de São Sebastião – AMAS, Associação Indígena Kulina do Vale do Javari – AIKUVAJA, Associação do povo Kanamari do Vale do Javari – AKAVAJA, Associação de Desenvolvimento Comunitário do Povo Indígena Marubo do Rio Curuçá – ASDEC, Organização das aldeias Marubo do rio Ituí – OAMI e Organização Geral Mayuruna – OGM.

A oficina para organizações indígenas teve como objetivo fortalecer sua atuação para a implementação de ações de gestão territorial e ambiental da TI Vale do Javari. Foram discutidos os principais desafios enfrentados para a gestão após a demarcação da TI e as prioridades de gestão territorial e ambiental dos povos indígenas do Vale do Javari. A oficina também privilegiou a discussão sobre o fortalecimento da implementação da Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial em Terras Indígenas (PNGATI) no Vale do Javari, recuperando seu processo de construção e fazendo uma avaliação de sua execução, de seus principais instrumentos para a implementação, e das perspectivas de financiamento.

Confira imagens das oficinas: