Mentwajê Cultural

Mentwajê Cultural é um ciclo de oficinas que busca a continua formação de jovens Timbira como pesquisadores e gestores culturais. As oficinas contam com a presença de jovens e velhos das 06 Terras Indígenas Timbira e sempre ocorrem no Centro Timbira de Ensino e Pesquisa Pënxwyj Hëmpejxá e são seguidas por atividades práticas nas aldeias. Os encontros  no Centro de Pesquisa duram por volta de 15 dias e os jovens são capacitados em técnicas de documentação audiovisuais e na gestão do Acervo Cultural Timbira. A presença dos velhos é de extrema importância nestes eventos, pois um de seus objetivos é ser um encontro cultural, onde os jovens possam trocar e aprender com os velhos as histórias, as cantigas e técnicas tradicionais.

Assim, as tecnologias modernas de comunicação e registro são aprendidas ao mesmo tempo em que saberes tradicionais são refletidos e transmitidos. Nestes encontros, os jovens são continuamente instruídos sobre os cuidados com a documentação e a importância dos registros realizados para a conservação e dinâmica da memória e da cultura Timbira em novas bases.

Desenvolvido em parceria com a Associação Wyty Catë dos Povos Timbira do Maranhão e Tocantins, as duas primeiras oficinas ocorreram em 2006 e reuniram cerca de 60 participantes. Os primeiros encontros tinham como objetivo principal fazer do Centro Timbira Pënxwyj Hëmpejxá um Ponto de Cultura-Minc e capacitar um grupo de indígenas para lidar com as tecnologias modernas de comunicação e registro. Essas oficinas foram muito proveitosas e promoveram o intercâmbio de experiências e saberes entre os Timbira, a classificação de gravações audiovisuais e de fotografias e a capacitação dos mentwajê em técnicas de documentação audiovisual.

Até o ano de 2010 foram realizados cinco módulos do Mentwajê Cultural com abordagens em diferentes temas que envolvem o patrimônio cultural Timbira. O primeiro tema a ser trabalhado foi a formação de um acervo que abrigasse a documentação produzida durante as oficinas e também pudesse conter material de outros pesquisadores e museus que se dispusessem a compartilhar os seus acervos. Assim se formou, com o apoio da Petrobras-Minc, o Acervo Cultural Timbira, que veio incrementar o já existente Arquivo Musical que possuía grande quantidade de fitas cassetes gravadas por pesquisadores que transitaram nas aldeias e também por cantadores Timbira que aprenderam a gravar suas próprias cantorias.

Durante as oficinas surgem novos caminhos de reflexão, e foi assim que o tema do Patrimônio Cultural Timbira passou a fazer parte das discussões dos participantes e motivar a realização de pesquisas pelos jovens em formação. Desta forma uniu-se o conhecimento nas técnicas de registro com a pesquisa de algumas manifestações culturais. Foi realizada, com o financiamento do Iphan, uma pesquisa sobre a corrida de toras e os conhecimentos a ela associados. Esta pesquisa foi um novo passo na formação destes jovens que puderam conhecer e refletir sobre os modos de conhecer desenvolvidos no mundo ocidental.

Um tema bastante abordado durante os ciclos do Mentwajê é a identidade Timbira, buscando reforçar os laços que unem estes seis povos e conhecer as diferenças, refletindo sobre o processo histórico e suas influências sobre o Paiz Timbira, como o denominou Curt Nimuendajú. Dentre as atividades, está a constituição e difusão do calendário anual de festas e rituais, que permite um melhor planejamento por parte do CTI para o apoio e documentação dos mesmos e para o intercâmbio de cantadores e participação de outros grupos, incrementando a vida ritual das aldeias.

As oficinas no Centro Timbira possuem continuidade nas aldeias, a equipe do CTI acompanha o calendário ritual e integra as atividades de pesquisa do Mentwajê Cultural às festas. Durante estes eventos os pesquisadores Timbiraassumem o controle de câmeras e gravadores. Colocam em prática o que aprenderam no Centro de Pesquisa filmando, fotografando os rituais e realizando suas pesquisas. Este trabalho é importante, não apenas para incrementar o Acervo Cultural Timbira, como também para incentivar o envolvimento dos jovens nos processos de preparação e realização de suas festas, pois para registrar e investigar é preciso bem conhecer o contexto e conteúdo dos rituais. O CTI distribui gravadores e fitas cassetes entre os jovens e velhos que participam das oficinas, sempre os orientando sobre os cuidados com os equipamentos e a importância na descrição e classificação das documentações para que este material possa ser agregado ao Acervo.

No Acervo é preciso digitalizar e disponibilizar os registros no Banco de Dados e computadores do Centro Timbira, onde eles poderão assisti-lo e classificá-lo conjuntamente, o que motivará novas conversas e reflexões. O CTI digitalizou grande parte deste material, na esperança de perpetuar sua qualidade em novos suportes como CDs, DVDs e HDs. Como artifício de segurança para o volume cada vez maior das referências do Acervo, uma cópia integral das digitalizações está sendo mantida em São Paulo, no escritório-sede do CTI.

O princípio da auto-gestão norteia todas as atividades a fim de tornar acessíveis os processos de documentação, salvaguarda e difusão do Acervo. Para tal, processos essenciais como o plano de classificação dos registros e a disponibilização das ferramentas para a documentação nas aldeias, são continuamente discutidos e definidos com os jovens, cantadores mais velhos e lideranças mais envolvidas com o projeto. O Mentwajê Cultural propicia um maior envolvimento desses jovens com o movimento cultural das aldeias, reforçando a importância e a continuidade dessas práticas e saberes.

Este processo de incentivo as práticas de transmição cultural ganha cada vez mais importância tendo em vista a pressão que o entorno tem provocado, influênciando valores e ideologias, sobretudo no público mais jovem que se interessa pelas coisas que vem de fora, como a televisão e o rádio e acaba sendo impactado pelo seus conteúdos. Neste processo é importante mostrar outras formas de incorporar as coisas de fora, com novas perspectivas ideológicas que valorizem também o que está dentro e pode dialogar com as atividades tradicionais.