Na manhã de 8 de novembro, a Aldeia Recanto, na Terra Indígena Buriti, se tornou palco de um momento histórico: o lançamento do primeiro Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA) do Mato Grosso do Sul, documento construído ao longo do ano com ampla participação da comunidade Terena e instituições parceiras.
A cerimônia reuniu lideranças tradicionais, anciãs e anciãos, mulheres, jovens, agentes ambientais, representantes da FUNAI/CR Campo Grande, do DSEI Mato Grosso do Sul, do Centro de Trabalho Indigenista (CTI) e do Conselho do Povo Terena. Foi um encontro marcado por emoção, orgulho coletivo e pela sensação de que a comunidade dava um passo essencial na consolidação de seu futuro.
O PGTA da TI Buriti, elaborado a partir de oficinas, reuniões, mapeamentos participativos e validações comunitárias, representa mais do que um documento técnico. É um instrumento que formaliza o modo como o povo Terena decide cuidar do seu território, proteger seus recursos naturais e garantir a continuidade de seus modos de vida. Para muitas lideranças presentes, ver o plano finalizado simbolizou o amadurecimento de uma luta travada por décadas.






Sob o sol da manhã, as falas lembraram a importância de fortalecer o Conselho do Povo Terena como espaço de articulação interna e de defesa dos interesses coletivos. Representantes das instituições indigenistas do Estado reforçaram o compromisso com o avanço do PGTA e com a consolidação de políticas que respeitem a autonomia e o protagonismo indígena. Palavras de agradecimento, esperança e firmeza atravessaram o encontro, compondo um clima de celebração, mas também de responsabilidade.
Ao longo do processo de construção do PGTA, a comunidade analisou e aprovou capítulos fundamentais: a apresentação do plano, a metodologia adotada, o histórico das Terras Indígenas Terena e da própria TI Buriti, o mapeamento participativo, que inclui mapas de lugares, de caça e pesca, de vegetação e de áreas com maior incidência de incêndios, além de levantamentos sobre retomadas, formas de governança e uma matriz de ações prioritárias. Cada etapa foi discutida coletivamente, com escuta das lideranças, participação dos jovens e contribuição dos anciões, que resgataram memórias do território e saberes tradicionais indispensáveis.
Durante a cerimônia, destacou-se que a entrega do PGTA não encerra um ciclo, mas inaugura uma nova fase. Agora, o desafio é implementar as ações definidas, fortalecer a vigilância territorial, ampliar o diálogo com instituições de apoio e garantir que o plano se mantenha vivo, sendo revisitado e atualizado conforme as necessidades da comunidade. Lideranças lembraram que, embora o documento represente “um passo pequeno no papel”, ele carrega um significado profundo para a garantia de direitos e para a afirmação da autonomia dos povos indígenas no Mato Grosso do Sul, um Estado marcado por intensos conflitos fundiários.






O evento também foi carregado de simbolismo para os mais velhos, que viram na formalização do PGTA um reconhecimento da longa resistência da TI Buriti frente às pressões externas e à diminuição do território ao longo dos anos. Para os jovens, o plano surge como ferramenta de futuro, capaz de orientar ações de cuidado, sustentabilidade, segurança hídrica e proteção cultural. “Agora temos um documento que mostra como queremos viver, como queremos cuidar da nossa terra e como vamos lutar por ela”, afirmou uma das lideranças durante a cerimônia.
Após a entrega oficial, a comunidade se reuniu em um grande almoço coletivo, gesto que reforçou os laços internos e celebrou, de forma simples e afetiva, um avanço de enorme magnitude para a gestão territorial indígena. Entre conversas, sorrisos, crianças correndo pela aldeia e reencontros entre famílias, o sentimento predominante foi de união e força.
O lançamento do PGTA da TI Buriti marca um momento histórico não apenas para o povo Terena, mas para todas as Terras Indígenas do Mato Grosso do Sul. É a demonstração concreta de que, quando a comunidade se organiza e conduz seu próprio planejamento, o território fica mais protegido e o futuro mais firme. A partir daqui o plano passa a guiar uma caminhada coletiva, uma caminhada que não começou hoje, mas que ganha, agora, uma nova direção e um novo vigor.






Ao mesmo tempo, a iniciativa fortalece diretamente a implementação da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI), ao colocar em prática ações de governança, proteção ambiental, uso sustentável e valorização dos saberes tradicionais que a política estabelece como diretrizes fundamentais.

