Por Fernando Ralfer/CTI
Nos dias 4 e 5 de abril, final de semana que antecedeu o Acampamento Terra Livre (ATL), o Comitê de Articulação de Mulheres Indígenas do Cerrado realizou a terceira reunião de planejamento de um grande encontro previsto para acontecer em setembro de 2025.
A atividade foi articulada pela Mobilização dos Povos Indígenas do Cerrado (MOPIC) e reuniu representantes de mulheres de diversos povos e organizações de base. Estiveram presentes mulheres da Associação Wyty-Catë das Comunidades Timbira do Maranhão e Tocantins, das associações Xavante Warã, Indígena Xakriabá, Indígena Kisêdjê, do Conselho do Povo Terena, além de outras organizações que atuam em âmbito nacional e regional, como a Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga) e Articulação de Mulheres Indígenas do Maranhão (AMIMA).
Na terceira reunião, as mulheres debateram sobre como será organizado este 1º Encontro de Mulheres Indígenas do Cerrado e os desafios e perspectivas de incidência política que ele trará. Foram definidos três grandes eixos temáticos de trabalho – Educação, Saúde, Cultura e Território – e formadas as comissões que ficarão à frente de cada um deles. Durante a reunião foi apresentado também uma prévia do mapa das TIs que fazem parte do bioma Cerrado, incluindo a situação fundiária em que cada uma delas encontra-se.
“Essa vontade nossa de querer fazer esse grande encontro de mulheres surgiu porque a gente, os povos do Cerrado, somos um pouco esquecidos, assim como nosso bioma. Então nós, mulheres, que estamos dentro dos territórios, queríamos essa oportunidade de dizer como o Cerrado é importante para a nossa vida, para a vida no planeta. E esse é o momento da gente trazer as nossas pautas, mostrar que estamos aqui. Do mesmo jeito, mostrar que o nosso Cerrado continua vivo”, explica Wasady Xakriabá, articuladora do movimento Juventude Xakriabá, em Minas Gerais.






De acordo com dados do Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado (SAD Cerrado), em janeiro de 2024, mais de 51 mil hectares de vegetação nativa do Cerrado foram desmatados, mantendo o bioma sob forte pressão, especialmente na região do Matopiba, que concentrou 64% da devastação. Apesar da aparente queda em relação ao mês anterior, os números seguem alarmantes e foram maiores que em janeiro de 2023.
Durante a reunião, cada mulher indígena compartilhou informações sobre seu povo e seu território, os desafios e as realidades vivenciados em suas comunidades e nas suas regiões e as estratégias adotadas na proteção de seus territórios, além de debaterem como o Encontro poderá fortalecer a própria participação política das mulheres indígenas do Cerrado dentro da MOPIC, conforme explica uma das coordenadoras da Mobilização, Iranildes Mandicai, do povo Bakairi, no Mato Grosso.
“A gente quer um departamento de mulheres dentro da Mopic. É por isso que estamos planejando esse encontro, trazendo as mulheres lá da base, nos articulando, para que haja essa reestruturação que permita mais inclusão e participação das mulheres”, pontua.
Para a diretora da Associação Wyty-Catë, Letícia Krahô, da TI Kraolândia, que fica localizada no Tocantins, o encontro que acontecerá em setembro representa uma oportunidade de dar voz às mulheres indígenas que vivem no Cerrado.
“O objetivo de todas as mulheres que estão reunidas aqui é ver o nosso Cerrado em pé. Então estamos com uma expectativa grande de que teremos mais visibilidade, porque o Cerrado é o berço das águas, é onde os rios nascem, é onde a gente vive. E a gente vem com essa vontade de dizer como é que está o nosso território, a situação das águas, para termos mais apoio na proteção, na preservação do nosso bioma”, explica.
A terceira reunião de organização do Encontro de Mulheres Indígenas do Cerrado é uma ação conjunta dos projetos “Cerrado Vivo: mulheres indígenas pela conservação”, que conta com o apoio do Fundo de Parceria Para Ecossistemas Críticos (CEPF); “Incidência para Conservação e Protagonismo das Mulheres Indígenas”, apoiado pelo Instituto Clima e Sociedade (ICS) e “Cerrado em Pé: fortalecendo a gestão territorial e ambiental de terras indígenas e suas organizações”, apoiado pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), por meio do Programa Copaíbas. São coordenados pelo Centro de Trabalho Indigenista (CTI) em parceria com a Mopic.
Os três projetos têm em seu escopo o fortalecimento da gestão territorial e ambiental de terras indígenas do Cerrado, adotando como estratégia o engajamento e protagonismo das mulheres indígenas.
O Fundo de Parceria para Ecossistemas Críticos é uma iniciativa conjunta da Agência Francesa de Desenvolvimento, da Conservação Internacional, da União Europeia, da Fundação Hans Wilsdorf, do Fundo Global para o Meio Ambiente, do Governo do Japão e do Banco Mundial. Uma meta fundamental é garantir que a sociedade civil esteja envolvida com a conservação da biodiversidade. No Brasil, o Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) atua como a Equipe de Implementação Regional do CEPF.