Mentwajê Ambiental

O Projeto Mentwajê Ambiental tem como proposta a formação de jovens Timbira (mentwajê) em gestão ambiental e territorial, concentrando-se nos mapeamentos participativos, nas pesquisas sobre plantas nativas e fisionomias tradicionais do Cerrado enquanto um instrumento de discussão e planejamento de uso do território, e no processo de formação de pesquisadores indígenas na temática ambiental; subsidiando-os de conhecimentos e ferramentas para que possam assumir a gestão de seus territórios.

Os cursos de formação acontecem no Centro de Ensino e Pesquisa Pënxwyj Hempejxà, em Carolina – MA, desde 1997, congregando jovens Timbira (mentwajê) para o aprendizado de conhecimentos e ferramentas da ciência do küpen (branco) na temática ambiental. Os conteúdos programáticos são complementados por conhecimentos da ciência do mehin repassados pelos velhos conselheiros (mekãré) que os acompanham durante os vinte dias de duração dos cursos.

Desde 2005 os mapeamentos participativos foram adotados como prática pedagógica para tratar da questão ambiental, com foco na situação socioambiental das terras indígenas Timbira1. A cartografia – enquanto um instrumento de gestão territorial e ambiental – foi tratada com base em uma matriz pedagógica que contemplou aspectos teóricos e práticos; passando pela história da ciência cartográfica, pelas convenções cartográficas, conceitos como espaço, território, terra indígenas, gestão, meio ambiente e demais, até propriamente a confecção dos mapas mentais.

Como todos os conceitos necessários para a compreensão da ciência cartográfica carregam verdades positivistas – desde detalhes como o fato da Terra ser redonda, até conceitos mais complexos, como a Lei da Gravidade – foi possível estabelecer, por meio de discussões e atividades pedagógicas, um diálogo entre os conceitos da ciência ocidental e os conhecimentos tradicionais sobre os assuntos tratados, no sentido de construir uma cartografia Timbira.

O mote inicial de trabalho com os mapeamentos participativos era produzir materiais para compor um Atlas Timbira confeccionado pelos próprios índios, e que pudesse servir de material de apoio para os professores indígenas nas escolas. Contudo, a repercussão positiva dos materiais produzidos pelos jovens em suas respectivas aldeias motivou a equipe do CTI a ampliar o uso dos mapeamentos participativos não só para fins didáticos. Os mapas – historicamente um instrumento de dominação dos küpen (brancos) – ao serem apropriados pelos mëhin (indígenas Timbira) num processo dialógico capaz de intercambiar conhecimentos tanto da ciência ocidental como da ciência Timbira, possuem um caráter potencialmente político para fins intra e extra comunitários face aos desafios para a garantia da integridade dos seus territórios.

Um conjunto de mapas mentais foi produzido desde 2005, e suas análises foram perpassadas por discussões sobre a situação socioambiental das TIs Timbira – abarcando o histórico do confinamento territorial, a expansão da fronteira agrícola, projetos de infra-estrutura e desenvolvimento. Tamanha discussão foi sinalizando projetos de futuro, dando corpo à elaboração do Plano de Gestão Territorial e Ambiental das TIs Timbira ou, nos dizeres dosmehin, um “plano para a vida boa”.

Os mapeamentos participativos e o plano de gestão são instrumentos introduzidos de forma complementar às estratégias tradicionais de gestão, buscando estabelecer diálogos entre os conhecimentos tradicionais e os da ciência ocidental para a reflexão e planejamento da gestão dos territórios Timbira.

As atividades de mapeamentos participativos e elaboração do plano de gestão foram diretamente
desenvolvidas – com assessoria da equipe técnica do CTI – por um grupo de 30 jovens Timbira (mentwajê), com a ajuda de um grupo de 10 conselheiros Timbira (mekãré) e participação comunitária nas oficinas de Gestão Territorial e Ambiental realizadas nas 06 TIs Timbira.

No ano de 2010 um grupo de 20 jovens Timbira, após participação assídua nos doze cursos realizados, concluíram o primeiro ciclo de formação. Tanto o conteúdo programático como o grupo de jovens participantes dos cursos estão passando por um processo de renovação para dar início ao segundo ciclo de formação.